Neoplatonismo e cultura cristã

A influência do neoplatonismo sobre o pensamento cristão é uma questão muito antiga, que desde os primeiros séculos da nossa era tem sido alvo de interesse e preocupação. De fato, nenhuma outra corrente de pensamento influenciou (e causou mais estragos) a cultura cristã que o neoplatonismo (em segundo lugar temos o estoicismo). Nele encontramos fonte abundante de heresias e outras falsas doutrinas. Tal influência nefasta não se restringe aos tempos antigos, mas é uma constante por todo o curso da história do pensamento ocidental. Estamos, literalmente, cercados pelo neoplatonismo. Ele está em toda parte, nos menores detalhes de nossa cultura… das paredes das catedrais góticas aos computadores de nossas casas.

Rousas Rushdoony é um dos autores cristãos atuais que tenta nos alertar sobre esse perigo. Em um pequeno livro (Rejeição à Humanidade: os efeitos do neoplatonismo no cristianismo), ele aponta diferentes esferas em que se percebe os efeitos nocivos da impregnação do pensamento neoplatônico sobre o cristão. Da ideia de Homem às relações matrimoniais, passando pela política, economia, feminismo, etc. Ainda que se possa fazer ressalvas ao livro, nem por isso ele tem seu mérito e importância diminuídos.

Eu, na qualidade de filósofo cristão, tenho me ocupado intensamente com esse tema. A minha formação em filosofia clássica me possibilita dar a esse problema um tratamento um tanto distinto do que comumente se faz. A distinção não diz respeito ao conteúdo das críticas, mas sim quanto ao foco e ponto de partida.

Um dos meus pontos de interesse e pesquisa se concentra no conceito de educação clássica, sobretudo, no currículo das sete artes liberais (o trivium e o quadrivium clássicos). A influência do neoplatonismo sobre o currículo cristão clássico não tem recebido a atenção devida, falta essa que precisa ser urgentemente corrigida.

No quadro dessa postagem mostro os comentadores de Aristóteles (alguns deles, não todos) como responsáveis pela introdução do neoplatonismo no currículo cristão. Isso é especialmente verdadeiro em se tratando do trivium.

Aristóteles é a base das artes do trivium, e comentadores neoplatônicos como Porfírio e Olimpiodoro foram, ironicamente, os grandes professores e intérpretes do pensamento de Aristóteles. Forem eles, dentre outros, os responsáveis por converter a filosofia aristotélica em um desdobramento “natural” do platonismo. Desse modo introduziram na cosmovisão cristã, como se fossem verdades fundamentais do pensamento filosófico, os erros platônicos que Aristóteles superara.  O principal efeito dessa manobra foi o da sujeição do logos ao número, o que mais tarde se desdobrou na esperança moderna de reduzir a natureza às suas qualidades matemáticas (lembrem que Deus criou o mundo pela palavra (logos) e não pelo número). O efeito mais imediato dessa troca, é a impossibilidade de extrair qualquer valor ou sentido da estrutura do real. Se a realidade carece de sentido, também o homem, dado que este último é parte integrante da natureza que o cerca. E se as coisas no mundo carecem de sentido, então resta ao homem buscar e atribuir significado a partir de si mesmo, e assim fazendo, dar vazão àquele projeto iniciado em Gênesis 3:5.

Para aqueles que se interessam por essa questão, peço para juntarmos forças na tarefa de reflexão e enfrentamento do pensamento neoplatônico sobre o cristão. Seja contribuindo como interlocutor ou como ouvinte, fica aqui o meu convite e exortação.

1 comentário em “Neoplatonismo e cultura cristã”

  1. Jonattas Daniel da Silva

    Me interesso pela reflexão sobre o tema e gostaria de me juntar como ouvinte, porem tenho pouco conhecimento relacionado ao tema qual seria o caminho inicial a seguir?

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