Nesse curso iremos tratar dois diálogos platônicos que retratam a interlocução entre o filósofo Sócrates e o sofista Hípias. A discussão entre esses homens é, por si só, emblemática e significativa. A questão envolvendo os dois se insere no contexto do enfrentamento entre a filosofia e a sofística, entre aqueles que buscam a sabedoria e aqueles que dizem ser sábios, entre aqueles que preferem uma sabedoria real sem o parecer e aqueles que preferem o parecer ser sábio sem, na realidade, o ser.

O debate entre filósofos e sofistas gregos consistia, para além de uma disputa intelectual, em uma disputa pedagógica, tanto sobre à prerrogativa de ensinar, quanto sobre à natureza mesma da educação.

No primeiro diálogo que iremos tratar, o Hípias Maior, temos uma interlocução entre esse sofista e Sócrates, por meio da qual buscam estabelecer a definição do Belo. Depois de diversas tentativas fracassadas, em estado de aporia e perplexidade, chega-se à conclusão de que o “Belo é difícil”. Com isso, Sócrates consegue revelar não apenas a sabedoria aparente do seu interlocutor, mas também a natureza complexa do empreendimento filosófico, da busca pela verdadeira sabedoria.

No Hípias Maior temos uma mostra paradigmática de uma das principais indagações filosóficas, a pergunta pelo “o que é?”. Nesse diálogo nos são apresentados importantes critérios e técnicas utilizadas na tarefa de estabelecer a definição de termos, que é condição indispensável para o sucesso da atividade racional.

——————————————————————————————————————————-

No segundo diálogo, O Hípias Menor, o problema debatido é sobre qual dentre os heróis gregos, Aquiles e Odisseu, é o melhor (o mais nobre e corajoso, aquele que é Bom). A investigação conduz a um paradoxo ético, que diz ser melhor o homem que comete uma injustiça voluntariamente que aquele o faz de modo involuntário. Esse paradoxo possui implicações éticas profundas e descobrir como resolvê-lo é o principal ensinamento dessa obra.

Além de uma reflexão sobre conceitos éticos chaves como “veracidade”, “falsidade” e “bondade”, o diálogo nos oferece, tal como no Hípias Maior, excelente material para o aprendizado em lógica tradicional. Não sem razão, o conjunto “Hípias Maior e Menor” é contado, na opinião da crítica especializada, entre as mais intrigantes e engenhosas peças argumentativas da antiguidade.